quarta-feira, 19 de junho de 2013

AO PRODUTOR QUE PROCURA A MINHA AUDIÇÃO

Continuo prezo ao vicio de ouvir radio, porque cresci a ouvi radio e apaixonei-me por este meio. Mas, todos os dias quando traço um itinerário de audição bato na rocha como diz a Patrícia Faria.
Presumo que no mercado de produção de conteúdos radiofónicos, estão muitos produtores que antes de aprenderem o suficiente já se julgam como estando no podium.
Por favor falem ao meu ouvido e a minha alma. Eu não sou um receptor passivo...
Adriano Lopes Gomes no artigo O RÁDIO E A EXPERIENCIA ESTETICA NA CONSTITUIÇÃO DO OUVINTE, depois de afirmar que “a radio é um veiculo de comunicação de massas que apresenta o sentido midiático da alteridade” recomenda que o produtor de radio no seu ofício deve tomar em conta quando produz conteúdos que vai dizer alguma coisa a alguém que deve ser interessante, inteligível e que, sobremaneira, possa catalisar a atenção para aquilo que é comunicado. Manda ainda considerar o “EU” que fala e o “OUTRO” que ouve que mantêm uma comprometida e estreita relação, uma relação de cumplicidade, que só se consegue desde que do lado de quem produz haja vontade de fazer e fazer bem, sensibilidade de supor acertadamente os desígnios de quem ouve e a todo o instante inovação e criatividade.
Zilberman afirma que “só se pode gostar do que se entende e compreender o que se aprecia”. Esta concepção é valida para os estudos sobre a radio, porquanto o ouvinte é atraído por determinada emissora ou certo programa radiofônico em razão do apelo sensorial e racional que tal situação provoca, formulando conceitos e ideias que extravasam a mera explicação de que está sintonizado simplesmente por gostar. O ouvinte tem prazer por ouvir radio e tem ideia clara sobre sua opção. Ao sintonizar certa emissora é impossível ficar indiferente a mensagem veiculada. O acto de escuta possibilita identificação com o produto radiofônico quando aquilo que é comunicado estabelece um sentido com os horizontes de expectativa do ouvinte.
Radio também é arte, do ponto de vista da elaboração do produto de valor estético, configurado nas peças que veicula a todo o momento, ou de natureza sonoplastica, de locução ou expressão vocal. A rádio é catalisador de prazer e consciência estéctica quando o ouvinte vai constituindo um repertório de experiências que se acumula a cada recorrência à audição.
Nesses instantes, os ouvintes são afectados por forças do efeito estéctico. A ausência de imagens explicitas, próprias da TV favorece o acto de invocar cenários e personagens, situações quotidianas e relações familiares ou amorosas, possibilitando assim uma espécie de engajamento. O valor da permanência da radio no horizonte actual e futuro próximo segue baseado na sua capacidade de suscitar efeitos junto a recepção e no seu poder de mobilização.
Portanto o ouvinte de radio é um sujeito histórico, socialmente constituído pelo ambiente cultural, é selectivo e consciente do seu estar no mundo que o circunda e revela clareza na sua opção pela audição. É esse o ouvinte que diariamente reconfigura sua experiência estéctica, ampliando seus horizontes de expectativas. É para esse ouvinte que qualquer emissão de radio, que busca ser bem sucedida deveria trabalhar.

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