Comentei
muito recentemente um post do companheiro Isidoro Natalício e a seguir mereci
honras de um telefonema para uma conversa doce, cordial e calorosa.
Agradeço
a gentileza.
Mas vou
ser sincero e se calhar um pouco duro.
Regularmente
o Isidoro olha para o roll de incongruências com as quais a nossa media nos
brinda todos os dias, se esquecendo que alguns dos autores dos erros actuais,
podem ter sido vitimas de um sistema de aprendizado do qual o próprio também
fez parte, alias, chegou a dirigir uma equipa inteira de jornalistas, para o
caso a do Jornal de Angola no Cuanza Norte onde foi delegado durante quilométricos
anos.
Os mesmos
que hoje dão a notícia do “CÃO QUE MORDEU UM HOMEM” portanto, notícia óbvia ou
ainda notícia sem notícia, podem ter sido alguns da geração que nosso ilustre
veterano ajudou a forjar (?). A ser assim, então o Isidoro esta a beber do sem
próprio veneno.
Os
nossos editores, directores e responsáveis da década de 90, (falo
particularmente do Cuanza Norte) fizeram muito pouco para formar uma geração de
profissionais digna de ser a substituta de um colectivo que brilhou nos
primeiros anos da novel Angola.
Os
poucos que se firmaram o fizeram fruto de algum dom natural, arrojo, persistência
e alguma dose de sorte.
Senão
vejamos. Isidoro Natalício, Simão Kilama, Abílio Correia, Miguel Cândido,
Feliciano Quiangala, Pacheco, Borges, Katula, Marcos Bernardo, José Augusto,
Rui Serafim, Lucas Ricardo, Evaristo Panzo, Justiça Belengue e companhia
(desculpem-me se terá faltado alguém) a “geração
dos expoentes máximos” de escriba província, terão sido no conjunto, maus
instrutores, péssimos orientadores e até certo ponto uma geração egoísta ao se
terem fechado em copas quanto a transmissão de conhecimentos.
Não
conheço muitos casos em que são mencionados como tendo sido mestres de alguém o
que por si só é grave. Ao que tudo indica, Cuanza Norte não terá sido caso único.
Estarão
lembrados, os do meu tempo, que até tocar numa máquina dactilografa robotron
nas nossas redacções era pecado. Usar uma uher era um sacrilégio e mandar um
despacho para Luanda era o fim da picada. O espaço mediático da província, que
se circunscrevia a N’Dalatando, era um reduto reservado a uma “ínfima minoria”
onde pouquíssimos tiveram oportunidade de se aproximar.
Ainda
guardo fresco na memória, mas sem mágoas, a segregação praticada pelos nossos
“seniores” dos tempos idos que só nos mandavam em reportagens de quarta ou
quinta categoria.
Os
nossos “brilhantes” locutores que só nos pediam para fazer anúncio de estação
no final de semana quando fossem embora usufruir das fortes farras na feira, no
pavilhão Chefe Príncipe ou nos bares da Emprotel ou ainda curtir um daqueles
filmes que parava a cidade.
O que
quero dizer é que não houve um processo formativo do tipo de passagem de
testemunho do mestre para o aprendiz. Os nossos erros foram sempre motivos de
chacota e em algumas ocasiões justificativa para a expulsão.
Que o
diga o Belengue, se é que ainda se lembra, que me tirou da cabine de emissão
por ter colocado acento tónico na ultima silaba do nome da capital do Gana. Na
altura disse: rua e nunca mais voltas aqui.
O
Belengue era somente o todo-poderoso CHEFE DO SECTOR DE PROGRAMAS.
Nos
dias de hoje idem, não há um processo formativo nas nossas redações. Dizem os
que as frequentam que os que sabem, continuam a fechar-se em copas e a fazer
troça dos erros dos principiantes.
Sendo o
jornalismo uma profissão apetecida, a juventude tomam-na de assalto, refugiados
nas suas lindas silhuetas, nos seus vozeirões mais ou menos apreciáveis nos áudio
visuais e na sua prosa decorada que mais se assemelha a literatura do que
propriamente ao jornalismo.
Mas do
que olhar para os erros de hoje (convenhamos, temos erros de sobra) precisamos
descer o mais fundo possível, pensar o mais longe e subir o mais alto na
procura de soluções originais e adequadas ao tamanho mal que nos apoquenta.
Não devemos
fazer dos conhecimentos adquiridos uma peça museológica de nossa colecção
privada. Não exibamos a nossa progressão académica como um trofeu inalcançável
para os outros e nem pensemos que como de um golpe de mágica de repente os
outros estão todos errados e o certo sabemos nós.
De
forma didactica, mas urgente, tem de ser despoletado o debate. De forma
policial devem ser expurgados os “paraquedistas” e com coragem devemos separar
as águas e saber quem é quem.
Não
podemos continuar a nos arrogar ao privilégio de sermos jornalistas quando nos
apetece na cachimónia como disse um dia um político; eu também sou jornalista.
Será possível
um dia um jornalistas irromper num bloco operatório de um hospital e
autoproclamar-se médico? Será possível um dia em pleno tribunal um bom redactor
autoproclamar-se juiz?
Ouvi recentemente
um respeitado sociólogo, docente universitário dizer que alcançou o grau de
doutor na sua formação pelo que é professor titular na faculdade em que lecciona
e o “jornalismo é a sua segunda profissão por adopção”.
Agora
perguntou: eu também posso adoptar a sociologia como a minha segunda profissão,
só porque brinco de sociólogo fruto de um par de leituras curiosas que fiz a
uma certa bibliografia que a minha comadre Mixingi me ofereceu na tentativa de
me cooptar para a sociologia?
Portanto,
companheiro Isidoro, desculpe o atraso, mas alguém tinha de dizer a vossa
geração que foi egoísta, pouco dada a formação e passagem de testemunho e hoje
os escribas que vos servem são os vossos próprios “discípulos” que podem ter
aprendido mal o ABC e pior um pouco, a substituir os actuais está outra geração
que mal chega a entender que jornalismo estuda-se a tal profundidade que em
breve se enterra a geração dos JORNALISTAS POR VOCAÇÃO. Alias, começam a escassear
as vocações. Que o digam os católicos!
Confesso
que não guardo recalcamentos, alias a indiferença e a falta de partilha da
vossa geração forçou-nos a procurar alternativas e hoje podemos orgulhosamente
dizer que aprendemos a lição, nos adaptamos e sobrevivemos. Ainda andam por aí
alguns exemplares se bem que em vias de extinção.
E ainda
vais a tempo de te redimires companheiro.
Finalmente
e não menos importante. Os camaradas Silvino e Setila. Primeiro não é de bom-tom
que continuemos a trocar animosidades pouco urbanas por essa via. Nem a idade,
nem o estatuto profissional e nem o nível académico que ostentam são compatíveis
com tal.
Não há ninguém
neste mundo que diga tantas inverdades sem que se engane e diga uma verdade e
nem verdades que sejam tão verdadeiras que não contenham uma inverdade.
Vós estais
condenados a conviver na harmonia, apesar da diferença. De vós esperam-se bons
exemplos, porque é já vossa missão fazerem diferente e tentarem deixar esta
profissão, que cada um abraçou pelas mais variadas razões, melhor do que
encontraram e melhor um pouco do que esta agora.
Pra
terminar um desafio: porque não um malavu bem a maneira antiga no sitio do
Velho Zizi, alias é Natalício de Natal, não?
Sem comentários:
Enviar um comentário