sábado, 27 de dezembro de 2014

UM RECADO AOS MEUS CAMARADAS ESCRIBAS DA CIDADE JARDIM



Comentei muito recentemente um post do companheiro Isidoro Natalício e a seguir mereci honras de um telefonema para uma conversa doce, cordial e calorosa.
Agradeço a gentileza.
Mas vou ser sincero e se calhar um pouco duro.
Regularmente o Isidoro olha para o roll de incongruências com as quais a nossa media nos brinda todos os dias, se esquecendo que alguns dos autores dos erros actuais, podem ter sido vitimas de um sistema de aprendizado do qual o próprio também fez parte, alias, chegou a dirigir uma equipa inteira de jornalistas, para o caso a do Jornal de Angola no Cuanza Norte onde foi delegado durante quilométricos anos.
Os mesmos que hoje dão a notícia do “CÃO QUE MORDEU UM HOMEM” portanto, notícia óbvia ou ainda notícia sem notícia, podem ter sido alguns da geração que nosso ilustre veterano ajudou a forjar (?). A ser assim, então o Isidoro esta a beber do sem próprio veneno.
Os nossos editores, directores e responsáveis da década de 90, (falo particularmente do Cuanza Norte) fizeram muito pouco para formar uma geração de profissionais digna de ser a substituta de um colectivo que brilhou nos primeiros anos da novel Angola.
Os poucos que se firmaram o fizeram fruto de algum dom natural, arrojo, persistência e alguma dose de sorte.
Senão vejamos. Isidoro Natalício, Simão Kilama, Abílio Correia, Miguel Cândido, Feliciano Quiangala, Pacheco, Borges, Katula, Marcos Bernardo, José Augusto, Rui Serafim, Lucas Ricardo, Evaristo Panzo, Justiça Belengue e companhia (desculpem-me se terá faltado alguém) a “geração dos expoentes máximos” de escriba província, terão sido no conjunto, maus instrutores, péssimos orientadores e até certo ponto uma geração egoísta ao se terem fechado em copas quanto a transmissão de conhecimentos.
Não conheço muitos casos em que são mencionados como tendo sido mestres de alguém o que por si só é grave. Ao que tudo indica, Cuanza Norte não terá sido caso único.
Estarão lembrados, os do meu tempo, que até tocar numa máquina dactilografa robotron nas nossas redacções era pecado. Usar uma uher era um sacrilégio e mandar um despacho para Luanda era o fim da picada. O espaço mediático da província, que se circunscrevia a N’Dalatando, era um reduto reservado a uma “ínfima minoria” onde pouquíssimos tiveram oportunidade de se aproximar.
Ainda guardo fresco na memória, mas sem mágoas, a segregação praticada pelos nossos “seniores” dos tempos idos que só nos mandavam em reportagens de quarta ou quinta categoria.
Os nossos “brilhantes” locutores que só nos pediam para fazer anúncio de estação no final de semana quando fossem embora usufruir das fortes farras na feira, no pavilhão Chefe Príncipe ou nos bares da Emprotel ou ainda curtir um daqueles filmes que parava a cidade.
O que quero dizer é que não houve um processo formativo do tipo de passagem de testemunho do mestre para o aprendiz. Os nossos erros foram sempre motivos de chacota e em algumas ocasiões justificativa para a expulsão.
Que o diga o Belengue, se é que ainda se lembra, que me tirou da cabine de emissão por ter colocado acento tónico na ultima silaba do nome da capital do Gana. Na altura disse: rua e nunca mais voltas aqui.
O Belengue era somente o todo-poderoso CHEFE DO SECTOR DE PROGRAMAS.
Nos dias de hoje idem, não há um processo formativo nas nossas redações. Dizem os que as frequentam que os que sabem, continuam a fechar-se em copas e a fazer troça dos erros dos principiantes.
Sendo o jornalismo uma profissão apetecida, a juventude tomam-na de assalto, refugiados nas suas lindas silhuetas, nos seus vozeirões mais ou menos apreciáveis nos áudio visuais e na sua prosa decorada que mais se assemelha a literatura do que propriamente ao jornalismo.
Mas do que olhar para os erros de hoje (convenhamos, temos erros de sobra) precisamos descer o mais fundo possível, pensar o mais longe e subir o mais alto na procura de soluções originais e adequadas ao tamanho mal que nos apoquenta.
Não devemos fazer dos conhecimentos adquiridos uma peça museológica de nossa colecção privada. Não exibamos a nossa progressão académica como um trofeu inalcançável para os outros e nem pensemos que como de um golpe de mágica de repente os outros estão todos errados e o certo sabemos nós.
De forma didactica, mas urgente, tem de ser despoletado o debate. De forma policial devem ser expurgados os “paraquedistas” e com coragem devemos separar as águas e saber quem é quem.
Não podemos continuar a nos arrogar ao privilégio de sermos jornalistas quando nos apetece na cachimónia como disse um dia um político; eu também sou jornalista.
Será possível um dia um jornalistas irromper num bloco operatório de um hospital e autoproclamar-se médico? Será possível um dia em pleno tribunal um bom redactor autoproclamar-se juiz?
Ouvi recentemente um respeitado sociólogo, docente universitário dizer que alcançou o grau de doutor na sua formação pelo que é professor titular na faculdade em que lecciona e o “jornalismo é a sua segunda profissão por adopção”.
Agora perguntou: eu também posso adoptar a sociologia como a minha segunda profissão, só porque brinco de sociólogo fruto de um par de leituras curiosas que fiz a uma certa bibliografia que a minha comadre Mixingi me ofereceu na tentativa de me cooptar para a sociologia?
Portanto, companheiro Isidoro, desculpe o atraso, mas alguém tinha de dizer a vossa geração que foi egoísta, pouco dada a formação e passagem de testemunho e hoje os escribas que vos servem são os vossos próprios “discípulos” que podem ter aprendido mal o ABC e pior um pouco, a substituir os actuais está outra geração que mal chega a entender que jornalismo estuda-se a tal profundidade que em breve se enterra a geração dos JORNALISTAS POR VOCAÇÃO. Alias, começam a escassear as vocações. Que o digam os católicos!
Confesso que não guardo recalcamentos, alias a indiferença e a falta de partilha da vossa geração forçou-nos a procurar alternativas e hoje podemos orgulhosamente dizer que aprendemos a lição, nos adaptamos e sobrevivemos. Ainda andam por aí alguns exemplares se bem que em vias de extinção.
E ainda vais a tempo de te redimires companheiro.
Finalmente e não menos importante. Os camaradas Silvino e Setila. Primeiro não é de bom-tom que continuemos a trocar animosidades pouco urbanas por essa via. Nem a idade, nem o estatuto profissional e nem o nível académico que ostentam são compatíveis com tal.
Não há ninguém neste mundo que diga tantas inverdades sem que se engane e diga uma verdade e nem verdades que sejam tão verdadeiras que não contenham uma inverdade.
Vós estais condenados a conviver na harmonia, apesar da diferença. De vós esperam-se bons exemplos, porque é já vossa missão fazerem diferente e tentarem deixar esta profissão, que cada um abraçou pelas mais variadas razões, melhor do que encontraram e melhor um pouco do que esta agora.
Pra terminar um desafio: porque não um malavu bem a maneira antiga no sitio do Velho Zizi, alias é Natalício de Natal, não?

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