sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Radiodifusão angolana, rica historia escassa bibliografia

Desde a década 80 que me apaixonei pela radio. A posterior persegui o meu sonho de menino e ingressei nos quadros da programação infantil da Radio Kwanza Norte (grupo RNA). De lá pra cá nunca mais me afastei da radio, meio com o qual estabeleci uma relação intima e comprometida. Penso que, tal como eu, muitos outros, na singularidade da sua intimidade, têm na amiga radio uma companhia inseparável, confiável e permanente.
Ao ter entrado para este maravilhoso mundo, tive o meu período de “vaidade” aquele em que uma palmada nas nossas costas vinda de um admirador nos faz sentir-se uma estrela plena, mas também tive o meu período de chegar à conclusão de que pouco ou quase nada ainda sabia sobre o meu primeiro “grande amor”, a radiodifusão.
Na década de 90 me redescobri e fiquei sabendo que na radio deveria encaminhar-me para o JORNALISMO RADIOFONICO. A procura de aprendizado neste segmento não foi fácil naquela altura, pois foi num contexto difícil onde a bibliografia era escassa e a oferta de cursos e formações diminuta. Somente “paixão imensurável” foi capaz de me manter ligado à rádio, afinal tentei separar-me dela sem sucesso quando por algum tempo desvinculei-me do sector tendo ingressado no professorado logo depois de concluído o curso básico de formação docente, mas rápido percebi que o espectro do meu “primeiro grande amor” continuava a me perseguir.
Como há males que vem para bem, a guerra pós-eleitoral de 1992 forçou-me a encontrar refugio em Luanda. Aqui, e na luta pela sobrevivência, fui bater as portas da entidade patronal, a RNA.
Sem rodeios fui colado na redacção central de noticias. Privando com consagrados, que até a data me habituara a ouvir apenas nas retransmissões dos jornais principais nos velhos tempos do Kwanza Norte. Esta inusitada ocasião foi como que um balão de oxigênio para o renascer do “meu amor”.
Quis o destino que, depois de concorrer para uma vaga de emprego no sistema das N.U. em Angola chegasse a IRIN Radio, um projecto que foi decisivo para em definitivo renovar os meus sonhos e promover os meus votos perpétuos para com a radio. Dali para os dias de hoje, com passagem pela BBC WST e agora BBC media Action, a minha paixão foi acrescida do desejo de compreender profundamente o radio jornalismo e por via dessa compreensão dar o meu modesto contributo.
O ingresso na universidade, conjugado com lindas e ricas experiências partilhadas com renomados formadores internacionais do circuito BBC, acabou por despertar em mim a vontade de buscar conhecer o fenômeno para o qual me apaixonei e quiçá por via desse conhecimento dar o meu contributo na edificação de uma geração de radialistas dignos de continuarem a obra começada por tenazes homens que no seu espírito aventureiro e empreendedor deram inicio a radiodifusão em Angola.
Portanto, estamos a colocar-nos o desafio de promover e envolver-se em pesquisas nessa área. Pretendemos dar um primeiro passo que possa servir de base para trabalhos posteriores já que escasseiam estudos na área de radiodifusão contrastando com a longa e rica historia da radio em Angola cujo tiro de largada foi disparado a 28 de fevereiro de 1931 por Álvaro Nunes de Carvalho (o CR6AA), considerado por isso o pai da Radiodifusão de Angola.
Em segundo lugar, e não menos importante, a nossa ambição emana do facto de a radio assumir no meio social angolano uma importância capital, sem duvidas é ainda o meio mais barato e onde a comunicação não se confronta com a necessidade de instrução acadêmica como o caso de ler um jornal ou a necessidade de comprar artefactos ainda não baratos associada à necessidade de electricidade para o caso de televisão para não falar de outras plataformas de comunicação que se desenvolvem como a internet, a telefonia móvel e outras ofertas associadas a era digital onde as barreiras são mais expressivas.
Portanto, a radio ainda é o mais acessível, o mais barato e o mais directo dos meios de comunicação existentes. A entidade que busca estabelecer uma comunicação massiva e eficiência com o seu publico alvo, como o caso dos governos com os seus governados, sem duvidas deveria ver grandes e magnânimas oportunidades na radio e não o contrario.
Frei Jose Paulo, por altura do primeiro congresso de radiodifusão promovido pela UnIA, em fevereiro de 2011 dizia “as imagens vindas do interior do nosso país demonstram bem o quanto a rádio pode fazer em prol deste povo. Temos um meio de comunicação experiente e actual entre nós. A rádio pode e deve fazer muito mais para os Angolanos, nessa era da reconstrução não só das pontes e edifícios, mas sobretudo da reconstrução das mentes”. O Frei acrescenta “... o poder da palavra entre nós, descendentes de uma cultura da oralidade, é ainda muito forte e não é por ai que a TV poderá destituir a Rádio do trono que ela ocupa desde os tempos da guerra de libertação colonial aos nossos dias”.
Entretanto, para alcançar tal desiderato, ou seja, a conservação do “trono” urge a credibilização da radio, diria profissionalizar o sector com uma solida e eficiência formação dos seus operadores, acompanhado da instituição e produção de um processo legislativo pragmático, coerente e conseqüente para o estabelecimento das bases para uma radiodifusão eficiente e socialmente responsável fundada em leis e regulamentos claros e uma formação concentrada no homem.
Portanto, em 2012, sonhamos ( e porque sonhar não é proibido) buscar de diversas fontes subsídios capazes de servirem de base a quem concebe um projecto de radio jornalismo e vamos dedicar uma atenção particular ao gênero informativo, aquele que dentre os vários parece ser o pilar fundamental para um projecto de radio que começa das expectativas de seus destinatários e termina na sua satisfação. Para melhor compreender o radio jorn
alismo será inevitável uma incursão nos gêneros compatíveis com ele onde pontifica a noticia, mas também na informação, a técnica, a oralidade, o puro jornalismo e suas normas, a planificação e as tecnologias.
É chegado o momento dos gurus (como Carlos Pimental, no centro da foto ao lado com Nicolau da Silva) deixarem alguma herança para as gerações vindouras, mas para tal alguém tem de tomar a iniciativa de ir ao encontro dos mesmos, com diversos métodos e metodologias e compilar uma seqüência de dados que em muito poderia servir para a consolidação de uma radiodifusão a altura do país que ostentamos.
Para frente é o caminho.

1 comentário:

  1. Admira-me a sua dimensão humana de tratar as coisas, de partilhar os seus eloquentes conhecimentos científicos e ajudar os outros a crescerem. A vida transformou-me num polícia de carreira, mas meu sonho desde pequeno é fazer jornalismo, por isso contarei com a sua peculiar ajuda, no sentido de me formar nesta vertente, uma vez que o jornalista só se reforma com a morte.

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