quinta-feira, 11 de novembro de 2010

INSTANTANEOS DO DIA DA DIPANDA "REGISTOS DAS MINHAS COMEMORAÇÕES"

Matar saudades é mesmo matar e enterrar. Foi o que me levou ao estadio dos Dinizes que também já foi da Revolução quando ouvi dizer que estava em Ndalatando o 1º de Agosto e que tinha trumuno marcado com uma equipa local.
Fui para me recordar dos velhos tempos dos Diabos Negros, Dinámos, Surucucú, Mintec, Eka, Kuanza Textil e tantos outros "lendários "clubes das lides futebolisticas de Ndalatando. Para minha agradável surpresa o estadio dos Dinizes já tem relva e para mais ainda, relva natural e bem tratada. Me deu vontade de gritar: JA TEMOS PAPA, ou melhor já temos relva.
Angola a subiiiiiiiirrrrrr...

INSTANTANEOS DO DIA DA DIPANDA "REGISTOS DAS MINHAS COMEMORAÇÕES"


GRANDE DIA DA DIPANDA
Autocarro arde todinho na vila de Catete no dia da independencia

Lá diz e bem o ditado: OS BONS FILHOS VOLTAM SEMPRE A CASA. Hoje vesti-me de preto e vermelho, saquei do meu boné e me fiz à estrada. Foi a maneira singela que encontrei para comemorar pomposamente os 35 anos da nossa dipanda. Regressei a Ndalatando para ver amigos e familia mas tambem matar saudades. Todavia à saída de Luanda minha objectiva flagrou aquilo que deve ter sido um triste dia da independencia para um certo cidadão ou cidadãos que perderam nada mais nada menos que um autocarro.
Se calhar era o seu ganha pão. Ou talves não. Pode ser que era apenas um emprego ou ainda era o negocio para sustentar familia. Não pude apurar um unico elemento. Fiz a viagem e comigo mesmo me perguntava como foi possivel um veiculo arder todinho em uma estrada nacional a boca de Luanda sem que os bombeiros pudessem fazer algo. Alias, fizeram. O que fizeram foi ter chegado e apagado as chamas de um esquelecto daquilo que um dia foi um autocarro. Só estavamos apenas a algumas dezenas da capital de Angola enquanto no estadio 11 de Novembro soavam as salvas de canhões em honra aos 35 anos da dipanda.
Angola a subir...


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM OLHAR A CULTURA HUNGU

ADAGIOS, PARABOLAS E SETENÇAS HUNGU
Para lá nas terras a norte do Kuanza Norte habita um povo. Um povo e uma cultura por descobrir. Os maleficios dos horrores que martirizaram a querida Angola os hostilizou mas não o acabou. Sobreviveu e vive vivo seguindo em frente sempre audacioso e próspero. Para lá nas terras a norte do Kuanza Norte habitam os Mahungu dos quais eu sou parte, orgulhosamente apenas uma parte que se junta e se deve juntar aos outros para mostrar ao Kuanza Norte, a Angola e ao mundo a riqueza do seu saber.
Aqui uma pequena amostra de ricos e suculentos ADAGIOS E PARABOLAS que gostaria de recolher e reunir em livro para deixar para a posteridade. Recolhi e traduzi apenas estes, mas estou a espera de seu contributo para continuar a enriquecer esta lista que espero em breve tenha as dezenas e porque não as centenas..
Lanço o desafio.
Vamos a isso?
1.      PODEMOS DORMIR NA AGUA, O FRIO NÃO MATA
2.      O FILHO DE CARANGUEJO QUANDO VAI A UM RAPIDO DE AGUA É PORQUE JÁ CONFIA NOS SEUS TENTACULOS
3.      NÃO SE PROCURA RESOLVER UM CONFLITO COM PORCO BUSCANDO CONSELHOS AO JAVALI
4.      TIREMOS O ATRAVESSADO, PARA ABRIR CAMINHO AO PONTIAGUDO
5.      REMOVA O CADAVER DO RATO DA ARMADILHA PARA QUE SE DISPERSEM AS FORMIGAS
6.      NO BURACO DE UMA SANZALA GERALMENTE CAEM APENAS OS VISITANTES
7.      UM MENOR EDUCADO É CORRIGIDO COM SIMPLES OLHAR
8.      QUANDO A MÃO DEMORA MUITO NO INTERIOR DE UMA PANELA COM CARNE GERALMENTE NELA APENAS EXISTEM OSSOS
9.      SER MAIS VELHO NÃO É SINONIMO DE INTELIGENCIA
10.  TUDO VISTO PELO CÃO APENAS FICA COM ELE NO SEU CORAÇÃO
11. QUEM ASSA UM RATO DE CASA É UMA  MANIFESTA INTENCÃO DE O COMER
12. ATRAIDA PELA LUZ, A BORBOLETA SE ENTREGA AO LUME POR SI MESMO
13. ESTAR MAIS OU MENOS BEM É SINONIMO DE ESTAR DOENTE
14. QUEM SE INCLINA INDECENTEMENTE NÃO TEM CULPA, A CULPA É DE QUEM BUSCA VER A NUDEZ DO INCLINADO
15. ...

 
QUALIDADE DO SOM NA RADIO:
a voz e o registo magnetico

  As qualidades da voz e do som no geral, particularmente dos registos magneticos cuja essência é dar informação as audiências, são sem duvidas um dos maiores ingredientes que produzem a mistica de uma emissão de rádio porquanto o trunfo da rádio como produto é antes de tudo o som que ela transmite. Portanto este som não deve ser apenas um “som”. Variadíssimas vezes pessoas desavisadas, sempre que admiram um locutor de radio, referem “gosto muito da sua voz” ou ainda sempre que querem conhecer um apresentador de radio fazem-no trazidos pela energia que a sua voz transmite.
Pessoalmente nas minhas andanças pela rádio, nas emissoras provinciais do K.Norte e K.Sul, sempre que um ouvinte admirador tivesse o ensejo de me conhecer manifestou estupefacção pela desproporcional imagem que acabava de constatar e simpaticamente me dizia “pensava que fosses um homem mais alto, gordo, cheio e grande”. Nessas andanças guardo as recordações de uma jovem que me telefonava sempre ao fim do programa RADIO JUVENTUDE para bater um papo comigo. A sua maior vontade era que nos conhecessemos um dia. No dia que nos vimos disparou: sempre pensei que fosses alto!
Portanto a radio “esconde”  por detrás do seu som um personagem encoberto por uma grande curtina que separa o fazedor de radio do ouvinte apesar da proximidade e da intimidade que os une no binómio emissor-receptor. Como refere  um autor “a Rádio é uma arte para ouvir, mas ouvir, neste caso, não é apenas um dos cinco sentidos do organismo humano.”(MINKOV; 1982:11), portanto trata-se de uma relação em que a presença do corpo não entra, em que todo o trabalho é feito pela voz e pelos outros sons que transmitimos abrindo espaço, imaginação e consequentemente ao sonho e especulação interior. Conhecemos casos de actores que o seu talento se refugia por detras da sua voz. O Loiro do programa da Ana Maria Braga da TV GLOBO (do qual sou telespectador) é um exemplo. Desde que conheci  o programa ja vi variadissimos quadros mudarem e passarem a história, mas aquele  papagaio esta aí vivo e sobreviventemo.
Muito recentemente procurava eu mostrar um documento ao meu amigo Antonio Alentejo, quando acidentalmente esbarrei no meu arquivo de fotografias e o abri. Como um azar não vem só veio igualmente a calhar a fotografia de Manuel Vieira. O meu amigo de pronto perguntou de quem se tratava e eu lhe disse a verdade. Admirou-me a maneira como retorquiu: aquela voz toda é deste puto? Segundo o meu amigo o Manuel Vieira idealizado na sua mente era no minimo um homem de 2 metros de altura buchechudo e enfatado. Era a ilusão que lhe passava pela cabeça. Simplesmente a foto real do homem quebrou essa imaginação.
Outro amigo, ligou-me de proposito para perguntar se o João Pinto que via numa determinada manhã na TPA era o mesmo que habituara a ouvir nas manhãs da Ecclesia. Depois de lhe dizer que sim ele disparou: sinceramente o julgava mais soft. Na televisão parece um tipo enfiado em um facto. Não parece ele. Perguntado porque o meu amigo revelou que a voz que ouvia na Ecclesia era de um homem veloz, cheio de energia, sacudido o que não parecia na imagem que tinha no pequeno ecran.
Continuando nessa senda poderia citar o exemplo de uma outra amiga que me revelou que o Amilcar Xavier que via na Zimbo se parecia a aquele que começou a ouvir no dia novo nos  anos 80/90 da RNA porem um pouco mais crescido. Perante minhas interrogações revelou que os oculos lhe davam “outro ar”.
O meu irmão mais velho, Simão, a primeira vez que o apresentei a Eduardo Magalhaes nos corredores da RNA ficou impressionado e ate hoje mais de 15 anos decorridos continuam a dizer que conhece essa voz. Quanto a mim tambem sou a sua mascote por lado onde passa. Gosta de exigir o nosso apelido para mostrar a alguns poucos admiradores meus que eu er era seu irmão de Pai e Mãe. Portanto a voz na radio é mistica e se dependesse de muitos ouvintes bom seria que nunca chegassem a conhecer fisicamente os seus idolos. A isso acresço o facto de que boa radio, que cativa sua audiencia depende da qualidade de som que transmite e portanto vai dai a necessidade de termos de fazer da qualidade do  som para a radio uma preocupação permanente de quem o produz porquanto ele encerra o cerne da existia da magia deste media e consequentemente o engodo para manter as audiencias. Ignorar a qualidade de som é separar-se da razão de existencia de qualquer produto de radio os ouvintes, os seus consumidores, portanto os seus servidos.
Vai daqui a minha insistencia em todas as formações que concebo e faço para equipas de radio insistir e colocar acento tonico na qualidade do som. Isso pressupoe qualidade desde o momento que ele é ideializado, captatdo, editado e alinhado para a emissão. Trocar um RM de um interlocoutor do sexo feminino por um outro do sexo masculino suscita as mais variadas formas de reação. Uma vez ouvindo radio ao lado de um velho da terceira idade na cidade de Ndalatando o locutor acabava de anunciar entrevista com um administrador municipal do Bolongongo para o caso Daniel Passala, mas sequencia dos registos estava errada e começou a tocar o da Ines  Muhongo. Não so era trocar um homem por uma mulher mais o velho conhecia claramente a voz do daniel Passala alias o mesmo era seu conterraneo. Em reacção disse: sinceramente na  Camunday tudo é possivel, o Passala agora virou mulher?
A Radio Camunday, (pessoalmente acho o nome giro), é a alcunha que foi dada a Emissora provincial do Kuanza Norte nos anos 80 pelo seu limitado raio de acção nos tempos em que emitindo com um emissor  em ondas medias  de 1 kw as vezes não chegava em condições no bairro Catome de Cima. Essa dificuldade veio a ser colmatada com a instalação de um emissor de 10 e o alargamento da altitude da antena dando algum ganho a capacidade de propagação do sinal mas o nome ficou até aos dias de hoje.
radio é som  e os bons apreciadores deste media deixam-se envolver por aquilo que MEDITSCH classifica por  “um fenómeno vibratório capaz de provocar uma sensação auditiva originada pela vibração(...) produzindo ondas que se propagam no espaço tridimensional, transmitindo por sua vez a vibração para os demais corpos que encontram pelo caminho”[1][1]. Apesar do sistema auditivo ser o principal canal de entrada para a percepção deste produto fazer “boa emissao de radio” implica pensar nos restantes sentidos do homem. Precisamos fazer com que os ouvintes ouçam, apalpem, sintam o nosso produto.
Anna Richardson, minha primeira treinador em treinamentos para produtores de radio nos tempos da IRIN Nacções unidas quando nos propusemos a capacitar reporteres para servirem comunidades rurais afirmou um dia que o bom som transporta o auvinte até ao local descrito na nossa peça. Quando reportamos algo no exterior desde que pintemos bem o quadro podemos transportar o nosso ouvinte fazendo-lhe sentir o cheiro da flora se na floresta de Maiombe em Cabinda ou o da polvora se em pleno campo de batalha. Podemos ainda faze-lo apanhar chuva, sol ou frio. Tudo pedende de como vamos usar os pinceis e as diferentes tonalidades para montar o quadro. Aqui misturamos arte com jornalismo, produção de radio com criatividade tudo atraves do recurso ao SOM.
Acabava de chegar do Kuanza Norte, onde o meu caça palavras era um dispositivo de tecnologia de ponta na altura e me servia até para reportar grande factos incluindo coberturas de visitas ministeriais e do governador local com cujas gravações mereciam direito de emissão no Manhã Informativa ou ainda nos principais Jornais da RNA. Nosso unico estudio de radio onde coabitava a emissão e a edição tinha gravadores Revox e um sony porta cassete digital. Parecia o que de melhor se poderia ter na altura. As promessas de equipamentos de ponto que ouviamos repetidas reiteradas vezes nas vozes dos responsaveis nacionais da estação não passavam disso. Na altura solicitara licença na RNA pra experimentar outros ares profissionais motivado pelo desejo de se juntar a familia que deixara em Luanda tendo regressado a Ndalatando no pôs acordo de Luzaka para reabrir as emissões da RNA.
Quis a ironia do destino que atraves da associação Maos Livres aquela departamento adistrito a OCHA-Nações Unidas, estivesse a começar um projecto em Angola e eu ja jornalista ser indicado pela direcção da ONG da qual era colaborador e representante na provincia  conseguisse chegar a formação orientada por aquela profissional que ja tinha trabalhado como correspondente da BBC em Angola acabara de terminar sua formação na area de comunicação.
Durante o nosso encontro nessa formação acabei por conhecer mais uma ferramente a qual continuo apegado até hoje e aconselho muito boa gente a fazer o mesmo percurso: COOL EDIT PRO um programa de edição digital. Foi a primeira vez que pude ver uma banda sonora a ser manipulada de maneira visual pois até ali me servia unicamente do ouvido para fazer coisas antes atraves da AMPEX e depois atraves da REVOX. Confesso que começava uma revoção em mim que até hoje apenas vai no inicio.







[1][1] MEDITSH(1996:127), citado por Mariana Bessa em  “O ASPECTO VOCAL NO RADIO JORNALISMO”


JORNALISMO INVESTIGATIVO
Sem estabelecer um conceito unico e redutor quem incentiva jornalistas a praticarem jornalismo investiggativo  deve conduzir a equipa a perceber que a característica marcante da reportagem investigativa e o descobrimento de informação que não é fácil de obter através de fontes habituais de informação de primeira linha.
Por exemplo: Reportar um jogo de futebol ou uma conferência de imprensa de um ministro não constitui jornalismo investigativo. Em ambos casos o repórter só descreve e analisa um acontecimento publico, presenciado por muitas outras pessoas, entre eles, outros jornalistas. Porem, descobrir quanto pagou um clube de futebol para contratar um novo jogador estrela se essa informação não for publicamente divulgada, é sim um projecto de jornalismo investigativo.
Descobrir um acto de corrupção perpetrado por um ministro e obter provas do mesmo é também jornalismo investigativo.
Grosso modo foi nessa perspectiva que eu e meu grande mestre Robert Powell preparamos e realizamos um pequeno treinamento e consequentemente consolidamos as nossas ideias em um manual a sair sob chancela da BBC WST Angola. Desde aquele momento me apaixonei e auguro que mais profissionais se apaixonem por essa vertente pouco comum ainda entre nós em Angola.
Nessas lides em que me iniciei (como formador), muito se fala sobre as reportagens realizadas de forma clandestina e em alguns casos se tenta conceituar esta verdade do jornalismo como sendo o jornalismo investigativo. Se engana quem assim pensa, porque apesar de ser uma das formas de fazer investigação jornalistica na realidade a maior parte da reportagem investigativa e feita usando as ferramentas normais do repórter que se identifica abertamente como jornalista, porém, a chave da boa reportagem investigativa é rigor, equilibrio e profissionalismo na pesquisa de informação e na sua apresentação ao público, nomeadamente:

Ø  A persistência na pesquisa da informação.
Ø  O uso da imaginação e criatividade em obter ou procurar informação credível de fontes incomuns.
Ø  O rigor na verificação da informação obtida – a confirmação dos factos.
Ø  Atenção aos detalhes – a análise de detalhes chaves pode levar a conclusões importantes.
Ø  A apresentação justa e equilibrada dos factos de maneira a dar um quadro completo da situação que reflecte a realidade total.
Ø  A demonstração clara de que os factos revelados são importantes para o bem publico. (É importante não confundir o interesse das pessoas numa historia suculenta, como um escândalo sexual, com o interesse publico. Toda reportagem investigativa que revela aspectos da vida intima dos inqueridos deve-se justificar pelo bem publico produzido por tais revelações).

Antes de fechar essa reflexão gostaria de me referir aos propalados PERIGOS DO JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO. Na verdade nem sempre é perigoso exercer essa variante do jornalismo. Depende do tema e do contexto político em que o jornalista trabalha. O jornalismo investigativo não tem de ser uma questão de: “Bater o leão com a vara curta”. É importante frisar que se o jornalista mantiver um alto grau de rigor e de profissionalismo no seu comportamento e sobre aquilo que publica, correrá sempre menos perigo apesar de termos de admitir que este perigo existe.
Por isso é essencial basear todas as informações dadas e todas as análises feitas na publicação de factos certos bem verificados junto de fontes credíveis. Portanto quem como eu se quer iniciar nessas lides tem a caminho um contributo da BBC WST  (que ja referi) e modestamente o meu para partilharmos conhecimentos e experiencias maravilhosas que podem engradecer essa nobre profissão para a qual que entrego de corpo e alma.
VAMOS FAZER JORNALISMO INVESTIGATIVO A BEM DA PROFISSÃO E DA NOSSA QUERIDA ANGOLA.