domingo, 23 de junho de 2013

UMA POR 100 OU 10 POR CEM TANTO FAZ É ANGOLA


Todos os dias surpreendO-me com as mil ocorrências que desfilam a minha frente neste país especial de gente especial que especialmente se chama Angola. Acabei de comprar a porta do meu casebre um peixe seco ao preço de 2 mil kuanzas e a dona Guida duas cebolas do tamanho do meu punho cada uma a 100 kuanzas.
Surpreso disse a zungueira que estava a vender a cebola muito caro e a resposta obviamente foi: mano sta bom, nós também nu tamos ganha nada!!!
Foi então que me lembrei de ter comprado a uns tempos atrás 10 cebolas do mesmo tamanho ao preço de 100 kuanzas nos arredores do Lubango. Ali o meu espanto foi por ter sido muito barato, mas a zungueira agradeceu-me porque segundo ela já não tinha muitos dias para continuar a comercializar aquela colheita  pois, a seguir estragava-se.
Por lado uma cebola a 100 kuanzas, e no outro 10 cebolas do mesmo tamanho ao mesmo preço!!!Mesmo assim, ainda alguém ousa negar que não somos um povo especial, em um país especial e com ideias especialíssimas?

PROGRAMA 100 DUVIDAS, A HISTORIA POR DETRÁS DO NOME

 

Uma pessoa amiga abordou-me recentemente para lhe explicar ao certo porque o programa 100 DUVIDAS  da Emissora Católica de Angola se chamou assim e o que significava na verdade. Pois bem vou contar-vos a HISTORIA POR DETRAS DO NOME fazendo recurso as minhas notas.
O nome do baptismo do programa é 100 DUVIDAS. Tal designaçao foi um dos primeiros “osso duro de roer” E simultaneamente o primeiro exercicio de democracia participativa onde a força do voto suplantou as restantes pois, não surgisse o projecto do conceito de BOA GOVERNAÇÃO E DIALOGO ENTRE GOVERNANTES E GOVERNADOS.
Num certo dia do ano de 2009, em umas das salas do escritório da BBC WST Angola juntaram-se os futuros integrantes da equipa de produção, quadros do parceiro BBC e um representante da União Europeia para dar o primeiro pequeno grande passo que viria fazer historia na Radio Ecclesia.
Varias propostas de nome foram colacadas a mesa e o que parecia pacifico tornou-se pesaroso e calorosamente debatido a tal ponto de não ter sido alcançado consenso entre os participantes.
Perante tal impasse a solução a contendo de todos foi o classivo SUFRAGIO UNIVERSAL SECRETO. Para os participantes ao encontro era apenas mais um formalidade mas, para os mentores na iniciativa era o principio daquilo que viria a ser estabelecido como o principal recurso do programa: o debate das ideias até a exaustão na procura de melhor angulo de abordagem a bem da satisfação da audiência.
Foi assim que das varias propostas o “estranho”100 DUVIDAS foi o mais votado.. Finalmente o futuro programa tinha um nome.
Solicitada a justificava aos proponentes, ninguem conseguiu fielmente traçar as reais motivações da escolha nem estabelecer o perfeito juizo da significação do nome. Desta etapa retivemos a seguinte frase “um trocadilho de palavras que carregava o intenção do conteudo a sua atras, um conteudo que não deixasse duvidas na sua audiencia ou ainda que fosse atras das respostas das centenas de duvidas nos cidadãos angolanos”.
Portanto sem medo de errar este foi o marco de partida das calorosas e acesas discussões que a equipa viria a ter colocando enfoque no ouvinte e na satisfação das suas aspirações individuais ou colectivas mas nunca perdendo de vista os principios basicos de produção de uma “boa”materia jornalistica: verdade, imparcialidade e objectividade. 




quarta-feira, 19 de junho de 2013

AO PRODUTOR QUE PROCURA A MINHA AUDIÇÃO

Continuo prezo ao vicio de ouvir radio, porque cresci a ouvi radio e apaixonei-me por este meio. Mas, todos os dias quando traço um itinerário de audição bato na rocha como diz a Patrícia Faria.
Presumo que no mercado de produção de conteúdos radiofónicos, estão muitos produtores que antes de aprenderem o suficiente já se julgam como estando no podium.
Por favor falem ao meu ouvido e a minha alma. Eu não sou um receptor passivo...
Adriano Lopes Gomes no artigo O RÁDIO E A EXPERIENCIA ESTETICA NA CONSTITUIÇÃO DO OUVINTE, depois de afirmar que “a radio é um veiculo de comunicação de massas que apresenta o sentido midiático da alteridade” recomenda que o produtor de radio no seu ofício deve tomar em conta quando produz conteúdos que vai dizer alguma coisa a alguém que deve ser interessante, inteligível e que, sobremaneira, possa catalisar a atenção para aquilo que é comunicado. Manda ainda considerar o “EU” que fala e o “OUTRO” que ouve que mantêm uma comprometida e estreita relação, uma relação de cumplicidade, que só se consegue desde que do lado de quem produz haja vontade de fazer e fazer bem, sensibilidade de supor acertadamente os desígnios de quem ouve e a todo o instante inovação e criatividade.
Zilberman afirma que “só se pode gostar do que se entende e compreender o que se aprecia”. Esta concepção é valida para os estudos sobre a radio, porquanto o ouvinte é atraído por determinada emissora ou certo programa radiofônico em razão do apelo sensorial e racional que tal situação provoca, formulando conceitos e ideias que extravasam a mera explicação de que está sintonizado simplesmente por gostar. O ouvinte tem prazer por ouvir radio e tem ideia clara sobre sua opção. Ao sintonizar certa emissora é impossível ficar indiferente a mensagem veiculada. O acto de escuta possibilita identificação com o produto radiofônico quando aquilo que é comunicado estabelece um sentido com os horizontes de expectativa do ouvinte.
Radio também é arte, do ponto de vista da elaboração do produto de valor estético, configurado nas peças que veicula a todo o momento, ou de natureza sonoplastica, de locução ou expressão vocal. A rádio é catalisador de prazer e consciência estéctica quando o ouvinte vai constituindo um repertório de experiências que se acumula a cada recorrência à audição.
Nesses instantes, os ouvintes são afectados por forças do efeito estéctico. A ausência de imagens explicitas, próprias da TV favorece o acto de invocar cenários e personagens, situações quotidianas e relações familiares ou amorosas, possibilitando assim uma espécie de engajamento. O valor da permanência da radio no horizonte actual e futuro próximo segue baseado na sua capacidade de suscitar efeitos junto a recepção e no seu poder de mobilização.
Portanto o ouvinte de radio é um sujeito histórico, socialmente constituído pelo ambiente cultural, é selectivo e consciente do seu estar no mundo que o circunda e revela clareza na sua opção pela audição. É esse o ouvinte que diariamente reconfigura sua experiência estéctica, ampliando seus horizontes de expectativas. É para esse ouvinte que qualquer emissão de radio, que busca ser bem sucedida deveria trabalhar.

RADIO, UM MEIO APAIXONANTE

A rádio, meio de comunicação de massa, serve-se acima de tudo da sua rapidez, afinal ninguém melhor que a rádio quando o objectivo for dar factos em tempo real. A possibilidade que a rádio proporciona de divulgar os factos no exacto momento em que eles ocorrem fazem o homem sentir-se parte activa, sujeito e protagonista do seu mundo, pois pelos seus órgãos sensoriais é capaz de tão rápida e instantaneamente saber e aperceber-se das ocorrências com interferência na sua vida e dos seus próximos, alias segundo Walter Sampaio, a rádio intrinsecamente coloca o ouvinte dentro daquela "história que passa", no momento exacto em que está passando e, extrinsecamente, abre-lhe a alternativa de acompanhá-la.
Na introdução do livro O VEICULO, A HISTORIA E A TECNICA, o brasileiro Luiz Artur Ferraretto mostra claramente a força da rádio quando nos reporta a versão de Orson Welles para Guerra dos mundos, transmitida no the Mercury Theater on the air. Segundo o autor “a adaptação radiofônica mexeu com as mentes dos norte-americanos naquela noite. A voz e os sons cuidadosamente escolhidos traçaram poderosas imagens mentais”.
Joseph Paul Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler é o exemplo vivo de usar até a exaustão o poder da radio quando controlando este media o transformou em poderosíssima arma de arremesso a favor do nazismo e contra as forças aliadas. Em muitas das suas aparições na rádio transmitiu ‘imagens’ dramáticas acerca dos males que os aliados infringiam ao mundo e por isso a necessidade de aniquila-los ou descreveu convincentes vitorias das forças nazis que quase conseguia levar as audiências a “ver através da rádio”.
Uma imagem singular do acto de proclamação de  independência de Angola a 11 de Novembro de 1975 ficou para a posteridade. Trata-se do momento   de chegada de Agostinho Neto, imagem fielmente descrita naquele dia em directo pela RNA, através da audácia descritiva de Francisco Simons. É sem duvidas um momento marcante e singular, uma das imagens sonoras bem conseguidas que nos leva a “ver através da audição” os instantes anteriores à formalização do nosso estado soberano.
Um dos segredos esta na técnica da linguagem. Mandam os princípios que a linguagem na rádio tem de ser "quente", acolhedora, entusiasmada. Nada formal.  Convém que esteja sempre no presente para enfatizar o imediatismo.  Ela deve envolver emocionalmente e criar intimidade. Portanto, o recomendável para o locutor em radio é dirigir-se ao seu ouvinte de forma directa, no singular oferecendo valores de vida que emocionam.