quinta-feira, 31 de outubro de 2013

TRAGA A ROSA PARA O MUSSAMO, ORDENOU O GENERAL NGUETO!!!



Estamos no mês de novembro de 1997, precisamente no dia 10 de novembro. A sempre pacata cidade de Ndalatando, a Cidade jardim já sem jardins dignos desse nome, vivia naquele dia uma azafama grande porque iria acontecer um nos mais esperados eventos do ano. Tratava-se do concurso MISS KUANZA NORTE.
O país vivia a febre das misses e a capital do Kwanza norte não poderia ser a excepção. Excepção era o facto da nossa província nos últimos tempos se ter transformado na ultima a indicar a representante ao Comitê Miss Angola, que fazia o concurso nacional em dezembro. Já tinha havido debates intensos sobre mudar a data do evento, mas um dos seus principais apoiantes defendia a sua realização na data da dipanda. A historia teria sido outra se esse defensor não fosse Manuel Pedro Pacavira, o governador da província.
Na verdade ele mandava em muitas coisas do evento, diferente não podia ser não fosse o governo o maior promotor e financiador, apesar de que a organização e produção era sempre atribuída a uma comissão. Mas sabíamos que o Velho Paca interferia na escolha do júri e de muitas outras coisas. Foi por conta dessa sua interferência que fui escolhido para ser um dos apresentadores em parceria com uma voz feminina mandada vir de propósito de Benguela. Tratava-se de uma formosa mulher que dizia ter sido miss simpatia na província das acácias rubras no ano anterior. Ela é indescritível: era alta, peito cheio, olhos apaixonados e acima de tudo dona de um sorriso lindíssimo.
A ilustre tinha vindo Benguela pela mão do general Ngweto que a época era o vice-governador para defesa. A menina era irmã mais nova da esposa do general e estava em Ndalatando para visitar a parente e, portanto aproveitando-se de tão exuberante silhueta juntou-se o útil ao agradável sempre pensando em prestigiar o maior concurso de Beleza de Ndalatando.
A semana de ensaio tinha sido dura. Para as candidatas a preparação era sobre como estar em palco, as coreografias e cultura geral e eu e a minha parceira na apresentação trabalhamos com o produtor na sincronia do que iríamos dizer e em que tempo dizer, no timbre de voz e na sinalectica entre nós e os técnicos. Tudo isso funcionou perfeito e no dia 10 fazíamos todos o ensaio geral.
Tinham chegado às roupas, a banda musical, os convidados e todo o resto.
Antes do dia D, velho Paca ainda tirou do seu precioso tempo para passar pelo renovado Cine Ndalatando para ver o ensaio e certificar-se que estava tudo bem. Cruzamo-nos no corredor e trocamos umas palavras que foram mais dele para mim. No fundo era um encorajamento para me engajar e “caprichar” naquilo que iria fazer porque a província estava à espera isso mesmo do seu filho “um categorizado jornalista e locutor de radio que tinha talento para isso” dizia o velho político.
Sentimo-nos mais motivados e buscamos forças para mais esta empreitada. Rapidamente voltei ao trabalho e por sugestão da minha parceira fomos ver as roupas. Eu, que não tinha sido contemplado com apoio nenhum em termos de “guarda fato” tive de fazer recurso à prata de casa. Trouxe 3 pares de roupa. Dentre eles a minha companheira escolheu dois: um facto escuro que fazia contraste com o seu vestido creme e um traje africano branco para contrastar com o seu vestido de cerimônia preto que usaria na ponta final já que estava prometido que depois da eleição, as participantes e toda a equipa de produção seguiriam direito para a residência do governador para uma recepção que se prolongaria madrugada adentro.
Pelo o que era norma na época, a ida ao palácio do velho Paca seria a alta madrugada porque era quase certeza que o inicio da gala de eleição atrasaria apesar de ter sido aprazada para as 22 horas. Dito certo, começou o concurso apenas depois da meia noite. No jurado pontificavam nomes como o do então deputado Mello Xavier e do já falecido engenheiro Garcia, delegado local do MINADER e homem de confiança do governador e tido como intelectual de refinado conhecimento. Alias a certa altura do concurso quando foi o momento de cultura geral ele fez questão de pessoalmente subir ao palco e colocar as perguntas as participantes de viva voz mesmo contra a vontade da produção que sugerir dar a lista de perguntas e mim e a minha parceira. O engenheiro Garcia, fazia questão e justificava a sua decisão pelo facto de ter sido uma responsabilidade que a ele tinha sido incumbida por Sua Excelência o Camarada Governador. E assim foi.
Se a subida ao palco do engenheiro Garcia foi uma grande contrariedade para a produção maior foi ainda quando a nossa querida Dona Minga do protocolo enviada por SUA EXCELENCIA (é assim que todos tratavam o governador) irrompeu no palco e cochichou na minha orelha: Mussamo, o chefe mandou fazer mais uma ronda de cultura geral. Fui apanhado de calças na mão. Não tinha nova ronda de perguntas e não podia ali e no momento inventar novas perguntas para as coitadas das participantes de tão sofridas e castigadas tinha sido na ronda de perguntas do engenheiro Garcia.   
Voltemos a mim e a minha parceira.
Como disse ela era cunhada do general Ngweto e estava alojada na sua casa na rua de Moçambique. Apesar de estar na governação o nosso conhecidíssimo militar em tudo era igual a si mesmo: um militar. Mesmo quando pedia um favor parecia uma ordem. Contava-se que até nas reuniões do conselho da província era militar. Quando encabeçasse uma comissão dirigia como militar. Ngweto, como dizia era de profissão: militar.
Tinha sido incumbido pelo governador para pessoalmente supervisionar tudo.  Me encontrou nos degraus do então edifício do governo da província na Avenida Antonio Agostinho Neto e energicamente perguntou-me: então vocês os apresentadores já ensaiaram? E eu disse que ainda não porque a minha parceira ainda não se fazia presente.
Virou-se para o seu guarda pessoal, um jovem trajado de farda de policia de emergência e disparou: vai a casa e trada a Rosa para o ensaio com Mussamo.
O jovem guarda respondeu de pronto: as suas ordens general.
Retirou-se, subiu na carrinha bateu em direcção a Rua de Moçambique. Em pouquíssimos minutos estava de volta. Entretanto, neste lapso de tempo o general retrirou-se para o interior da sede do governo.
Para meu espanto o guarda pessoal do Ngweto trazia um ornamentado vazo de mesa de pé alto com rosas de porcela fresquinhas e trabalhadas. Naquela altura e porque rosas de porcela ainda eram uma abundancia no horto botânico do Kilombo era pratica as pessoas lá se dirigirem   e mandarem fazer bloquets de flores que até chegavam a Luanda.
Aprumado, como sempre, o guarda dirigiu-se a mim e disse: kota Mussamo, aqui tens as rosas que a mulher do general mandou. Foquei corado de tanta admiração. Rosas? Para quê? São ordens do general disse ele e foram mandadas pela kota lá de casa que disse para que sejam protegidas porque eram da banca cabeceira do general. A dama disse ainda que o general não gosta que faltem flores na sua banca.
Puxei da memória e entendi o tudo.
Na verdade a minha parceira chamava-se Rosa e o general tinha mandado o seu guarda pessoal para ir buscar a linda menina e trazê-la ao recinto do ensaio. Risos.
Sem perder fôlego bateu em retirada levando as rosas de volta e na viagem seguinte “aterrou” a verdadeira Rosa que partilharia comigo os microfones na gala de eleição da miss Kwanza Norte 1997.
A imagem que guardo da rosa é de facto de uma porcelana, era linda e ao longo do espetáculo uma quinta coluna da platéia não parou de assediar a Rosa a quem consideravam MISS.  Foi um concurso inesquecível pela serie de sub-eventos que produziu como o facto do Muembeji ter sido considerado por uma das miss como O MAIOR RIO DE ANGOLA.
Esta vos conto outro dia.