quinta-feira, 4 de novembro de 2010

 
QUALIDADE DO SOM NA RADIO:
a voz e o registo magnetico

  As qualidades da voz e do som no geral, particularmente dos registos magneticos cuja essência é dar informação as audiências, são sem duvidas um dos maiores ingredientes que produzem a mistica de uma emissão de rádio porquanto o trunfo da rádio como produto é antes de tudo o som que ela transmite. Portanto este som não deve ser apenas um “som”. Variadíssimas vezes pessoas desavisadas, sempre que admiram um locutor de radio, referem “gosto muito da sua voz” ou ainda sempre que querem conhecer um apresentador de radio fazem-no trazidos pela energia que a sua voz transmite.
Pessoalmente nas minhas andanças pela rádio, nas emissoras provinciais do K.Norte e K.Sul, sempre que um ouvinte admirador tivesse o ensejo de me conhecer manifestou estupefacção pela desproporcional imagem que acabava de constatar e simpaticamente me dizia “pensava que fosses um homem mais alto, gordo, cheio e grande”. Nessas andanças guardo as recordações de uma jovem que me telefonava sempre ao fim do programa RADIO JUVENTUDE para bater um papo comigo. A sua maior vontade era que nos conhecessemos um dia. No dia que nos vimos disparou: sempre pensei que fosses alto!
Portanto a radio “esconde”  por detrás do seu som um personagem encoberto por uma grande curtina que separa o fazedor de radio do ouvinte apesar da proximidade e da intimidade que os une no binómio emissor-receptor. Como refere  um autor “a Rádio é uma arte para ouvir, mas ouvir, neste caso, não é apenas um dos cinco sentidos do organismo humano.”(MINKOV; 1982:11), portanto trata-se de uma relação em que a presença do corpo não entra, em que todo o trabalho é feito pela voz e pelos outros sons que transmitimos abrindo espaço, imaginação e consequentemente ao sonho e especulação interior. Conhecemos casos de actores que o seu talento se refugia por detras da sua voz. O Loiro do programa da Ana Maria Braga da TV GLOBO (do qual sou telespectador) é um exemplo. Desde que conheci  o programa ja vi variadissimos quadros mudarem e passarem a história, mas aquele  papagaio esta aí vivo e sobreviventemo.
Muito recentemente procurava eu mostrar um documento ao meu amigo Antonio Alentejo, quando acidentalmente esbarrei no meu arquivo de fotografias e o abri. Como um azar não vem só veio igualmente a calhar a fotografia de Manuel Vieira. O meu amigo de pronto perguntou de quem se tratava e eu lhe disse a verdade. Admirou-me a maneira como retorquiu: aquela voz toda é deste puto? Segundo o meu amigo o Manuel Vieira idealizado na sua mente era no minimo um homem de 2 metros de altura buchechudo e enfatado. Era a ilusão que lhe passava pela cabeça. Simplesmente a foto real do homem quebrou essa imaginação.
Outro amigo, ligou-me de proposito para perguntar se o João Pinto que via numa determinada manhã na TPA era o mesmo que habituara a ouvir nas manhãs da Ecclesia. Depois de lhe dizer que sim ele disparou: sinceramente o julgava mais soft. Na televisão parece um tipo enfiado em um facto. Não parece ele. Perguntado porque o meu amigo revelou que a voz que ouvia na Ecclesia era de um homem veloz, cheio de energia, sacudido o que não parecia na imagem que tinha no pequeno ecran.
Continuando nessa senda poderia citar o exemplo de uma outra amiga que me revelou que o Amilcar Xavier que via na Zimbo se parecia a aquele que começou a ouvir no dia novo nos  anos 80/90 da RNA porem um pouco mais crescido. Perante minhas interrogações revelou que os oculos lhe davam “outro ar”.
O meu irmão mais velho, Simão, a primeira vez que o apresentei a Eduardo Magalhaes nos corredores da RNA ficou impressionado e ate hoje mais de 15 anos decorridos continuam a dizer que conhece essa voz. Quanto a mim tambem sou a sua mascote por lado onde passa. Gosta de exigir o nosso apelido para mostrar a alguns poucos admiradores meus que eu er era seu irmão de Pai e Mãe. Portanto a voz na radio é mistica e se dependesse de muitos ouvintes bom seria que nunca chegassem a conhecer fisicamente os seus idolos. A isso acresço o facto de que boa radio, que cativa sua audiencia depende da qualidade de som que transmite e portanto vai dai a necessidade de termos de fazer da qualidade do  som para a radio uma preocupação permanente de quem o produz porquanto ele encerra o cerne da existia da magia deste media e consequentemente o engodo para manter as audiencias. Ignorar a qualidade de som é separar-se da razão de existencia de qualquer produto de radio os ouvintes, os seus consumidores, portanto os seus servidos.
Vai daqui a minha insistencia em todas as formações que concebo e faço para equipas de radio insistir e colocar acento tonico na qualidade do som. Isso pressupoe qualidade desde o momento que ele é ideializado, captatdo, editado e alinhado para a emissão. Trocar um RM de um interlocoutor do sexo feminino por um outro do sexo masculino suscita as mais variadas formas de reação. Uma vez ouvindo radio ao lado de um velho da terceira idade na cidade de Ndalatando o locutor acabava de anunciar entrevista com um administrador municipal do Bolongongo para o caso Daniel Passala, mas sequencia dos registos estava errada e começou a tocar o da Ines  Muhongo. Não so era trocar um homem por uma mulher mais o velho conhecia claramente a voz do daniel Passala alias o mesmo era seu conterraneo. Em reacção disse: sinceramente na  Camunday tudo é possivel, o Passala agora virou mulher?
A Radio Camunday, (pessoalmente acho o nome giro), é a alcunha que foi dada a Emissora provincial do Kuanza Norte nos anos 80 pelo seu limitado raio de acção nos tempos em que emitindo com um emissor  em ondas medias  de 1 kw as vezes não chegava em condições no bairro Catome de Cima. Essa dificuldade veio a ser colmatada com a instalação de um emissor de 10 e o alargamento da altitude da antena dando algum ganho a capacidade de propagação do sinal mas o nome ficou até aos dias de hoje.
radio é som  e os bons apreciadores deste media deixam-se envolver por aquilo que MEDITSCH classifica por  “um fenómeno vibratório capaz de provocar uma sensação auditiva originada pela vibração(...) produzindo ondas que se propagam no espaço tridimensional, transmitindo por sua vez a vibração para os demais corpos que encontram pelo caminho”[1][1]. Apesar do sistema auditivo ser o principal canal de entrada para a percepção deste produto fazer “boa emissao de radio” implica pensar nos restantes sentidos do homem. Precisamos fazer com que os ouvintes ouçam, apalpem, sintam o nosso produto.
Anna Richardson, minha primeira treinador em treinamentos para produtores de radio nos tempos da IRIN Nacções unidas quando nos propusemos a capacitar reporteres para servirem comunidades rurais afirmou um dia que o bom som transporta o auvinte até ao local descrito na nossa peça. Quando reportamos algo no exterior desde que pintemos bem o quadro podemos transportar o nosso ouvinte fazendo-lhe sentir o cheiro da flora se na floresta de Maiombe em Cabinda ou o da polvora se em pleno campo de batalha. Podemos ainda faze-lo apanhar chuva, sol ou frio. Tudo pedende de como vamos usar os pinceis e as diferentes tonalidades para montar o quadro. Aqui misturamos arte com jornalismo, produção de radio com criatividade tudo atraves do recurso ao SOM.
Acabava de chegar do Kuanza Norte, onde o meu caça palavras era um dispositivo de tecnologia de ponta na altura e me servia até para reportar grande factos incluindo coberturas de visitas ministeriais e do governador local com cujas gravações mereciam direito de emissão no Manhã Informativa ou ainda nos principais Jornais da RNA. Nosso unico estudio de radio onde coabitava a emissão e a edição tinha gravadores Revox e um sony porta cassete digital. Parecia o que de melhor se poderia ter na altura. As promessas de equipamentos de ponto que ouviamos repetidas reiteradas vezes nas vozes dos responsaveis nacionais da estação não passavam disso. Na altura solicitara licença na RNA pra experimentar outros ares profissionais motivado pelo desejo de se juntar a familia que deixara em Luanda tendo regressado a Ndalatando no pôs acordo de Luzaka para reabrir as emissões da RNA.
Quis a ironia do destino que atraves da associação Maos Livres aquela departamento adistrito a OCHA-Nações Unidas, estivesse a começar um projecto em Angola e eu ja jornalista ser indicado pela direcção da ONG da qual era colaborador e representante na provincia  conseguisse chegar a formação orientada por aquela profissional que ja tinha trabalhado como correspondente da BBC em Angola acabara de terminar sua formação na area de comunicação.
Durante o nosso encontro nessa formação acabei por conhecer mais uma ferramente a qual continuo apegado até hoje e aconselho muito boa gente a fazer o mesmo percurso: COOL EDIT PRO um programa de edição digital. Foi a primeira vez que pude ver uma banda sonora a ser manipulada de maneira visual pois até ali me servia unicamente do ouvido para fazer coisas antes atraves da AMPEX e depois atraves da REVOX. Confesso que começava uma revoção em mim que até hoje apenas vai no inicio.







[1][1] MEDITSH(1996:127), citado por Mariana Bessa em  “O ASPECTO VOCAL NO RADIO JORNALISMO”


Sem comentários:

Enviar um comentário